A Era de Aquário

Há exatos 55 anos, em maio de 1969, a música “Aquarius” figurava no topo das listas de audiência no mundo todo. Ela foi composta para um musical que simbolizou a contra-cultura dos anos 1960 norte americana e as revoluções sociais que marcaram a época: as lutas por maior igualdade para negros, mulheres e pessoas LGBT, o movimento anti-guerra do Vietnam, o amor livre dos hippies, grandes abalos políticos e avanços galopantes na corrida espacial, com astronautas orbitando a Terra e chegando à lua pela primeira vez.

Foi sem dúvida uma das décadas mais intensas vividas nos tempos recentes, gerando ondas que repercutem até hoje.

A famosa música canta a esperança de uma nova era que traria, a partir de transformações conscienciais profundas, um modo de vida mais pacífico, equânime e feliz.

A letra soa engraçada para um astrólogo porque não faz sentido astrologicamente, já que Júpiter forma aspectos com Marte várias vezes por ano e a Lua está na sétima casa por algumas horas todos os dias. Essas configurações são cantadas como se fossem os arautos da era de Aquário, quando na verdade foram apenas usadas aleatoriamente como licença poética mesmo.

As eras astrológicas

As eras astrológicas, calculadas com base no movimento da precessão dos equinócios, são ciclos de aproximadamente 2.160 anos no nosso calendário. Cada ciclo é associado a um dos signos do zodíaco, na ordem inversa à contagem anual que fazemos. Assim, na história recente tivemos a era de Peixes, que iniciou na época do nascimento de Jesus Cristo, e caminhamos agora para a era de Aquário, que iniciaria oficialmente por volta do ano 2160 (existem datas alternativas propostas).

A passagem das eras traz, em teoria, mudanças importantes no desenvolvimento da sociedade, história e cultura humanas. E as mudanças relacionam-se com os temas do signo da era em questão.

No seu lado mais positivo, Aquário simboliza o futurismo, a exploração, a quebra de limites, as novas possibilidades e uma conduta coletiva com mais igualdade, liberdade e fraternidade. No seu lado sombra, temos a rigidez de ideias, o orgulho intelectual, o controle coletivo sufocante e a rebelião destrutiva.

Com Aquário, estamos no território das utopias que podem se transformar em distopias também.

Transição entre eras

Como estamos falando de períodos de tempo muito amplos, alguns astrólogos preferem pensar em termos de um “fade out” de uma energia e “fade in” de outra, ao longo de alguns poucos séculos. E eu concordo que é improdutivo bater o martelo num ponto muito específico para o início da era de Aquário.

Por exemplo, a própria descoberta do planeta Urano, regente moderno do signo de Aquário, no ano de 1781, representou uma quebra importante na fronteira da nossa percepção do sistema solar, que ia até o limite de Saturno. O surgimento de Urano na consciência coletiva da humanidade coincidiu com o início de um ciclo de aceleração sem precedentes de revoluções industriais e tecnológicas, e isso certamente tem a ver com a era de Aquário!

Apesar de ser uma transição gradual ao longo do tempo, já podemos sentir fortemente as energias de Aquário na tônica dos temas sociais de hoje: a democratização da espiritualidade, a união entre ciência e espiritualidade, quebras de paradigmas mentais, rebeliões populares, maior consciência ecológica, ascensão das tecnologias de informação, inteligência artificial, a exploração intensa e cada vez mais aprofundada do espaço sideral.

A NASA, que reconhece viver tempos extraordinários, já catalogou desde a década de 1990 mais de 5 mil exoplanetas, e afirma que há bilhões mais por descobrir. Imagem do instagram @starwalkapp.

Vivemos uma época intensa de transformação de corações e mentes, que nos deixa inseguros porque sentimo-nos na fronteira do novo e do desconhecido. A humanidade tem escolhas a fazer e precisa ponderar as consequências dos avanços tecnológicos e conceituais que tem conquistado.

O signo oposto

Há um grupo de astrólogos que prefere pensar nas eras não como associadas a um signo único, mas sim a pares de signos opostos.

No zodíaco cada signo é ligado a um signo oposto, formando um círculo com seis eixos de pares: Peixes-Virgem, Aquário-Leão, Capricórnio-Câncer, Sagitário-Gêmeos, Escorpião-Touro e Libra-Áries.

Os eixos de pares de signos opostos no Zodíaco. Em azul mais escuro, a seta ligando o signo de Aquário ao signo de Leão.

Nessa perspectiva, estaríamos entrando não apenas na era de Aquário, mas sim na era do Eixo Aquário-Leão, em que a vibração mental, tecnológica e coletivista do signo de Aquário se defronta com a energia cardíaca, expressiva e individual de Leão.

Encontrar o equilíbrio entre as manifestações desse par de opostos é que seria o grande desafio da sociedade humana nos tempos que vêm por aí.

Para mim essa ideia faz muito sentido, pois penso que a sombra de Aquário, que é a despersonalização fria das relações e a perda da expressão individual precisa ser contraposta com o calor dos relacionamentos reais, tão bem simbolizado pelo solar signo de Leão.

Uma nota pessoal: nasci com o Sol no signo de Aquário e a Lua no signo de Leão. Meu Sol é praticamente oposto à minha Lua, tornando muito presente essa tensão entre o frio e intelectual Aquário e o caloroso e afetivo Leão.

Sei por experiência própria que uma mente super analítica que passa por cima dos sentimentos próprios e dos outros traz secura e dor. Por outro lado, uma expressão emocional egoísta que não considere a fraternidade Aquariana também tem um efeito negativo.

O eixo Aquário-Leão lembra-nos que o mental e o emocional são opostos que precisam ser equilibrados.

O valor de ser humano

Costumo dizer que a revolução a que assistimos com a chegada da inteligência artificial vai gerar um efeito rebote interessante: cada vez mais vamos ver valor nas coisas humanas reais, que são imperfeitas e orgânicas.

Eu que gosto de música, por exemplo, tenho valorizado cada vez mais as performances sem tanta produção técnica, e até mesmo com alguns erros. Também aprecio as pessoas que abrem mão dos filtros excessivos nas redes sociais, ou das fórmulas de sucesso para ter mais público.

Pra mim o que é orgânico e real tem se tornado cada vez mais precioso e belo, porque são as imperfeições e incompletudes que fazem de nós os humanos em evolução que somos.

Enquanto assistimos aos avanços da tecnologia, que vai nos superar na execução das coisas mentais e mecânicas, vamos aprender também a dar mais valor ao abraço, à escuta, à presença e ao calor humano.

Assim será, pelo menos, se conseguirmos encontrar o equilíbrio entre os temas aquarianos e leoninos, que é o equilíbrio entre a nossa mente e o nosso coração.

A era de Aquário é mais uma etapa na nossa caminhada evolutiva, cujo destino sempre está em aberto porque depende das nossas escolhas.

Então, que sejam bem vindas e sabiamente trabalhadas as luzes dessa nova era.